A governança corporativaÉ o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e... tem sido cada vez mais discutida como um dos pilares fundamentais para a sustentabilidade e o sucesso das organizações. Em um cenário de alta competitividade, de intensa fiscalização social e regulatória, e de crescente demanda por integridadeConjunto de escolhas que estejam em sintonia com as crenças pessoais e os valores da empresa, prezando pela ética nas tomadas de decisões., a forma como as empresas tomam decisões pode determinar não apenas seu desempenho econômico, mas também sua legitimidade perante o mercado e a sociedade. Nesse contexto, a transparênciaÉ o que se pode ver através, que é evidente ou que se deixa transparecer. É a virtude que impede a ocultação de alguma vantagem pessoal. das decisões se apresenta como um princípio essencial, capaz de fortalecer relações de confiança, prevenir riscos e gerar valor de longo prazo.
Mas, afinal, por que a transparência é tão importante? E de que maneira sua ausência pode comprometer a governança corporativa?
O Princípio da Transparência na Governança Corporativa
De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a transparência é um dos princípios fundamentais da boa governança, ao lado da equidadeCaracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos, levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas. Disponível em: https://www.ibgc.org.br/conhecimento/governanca-corporativa acesso em:06/04/2021..., prestação de contas (accountabilityTermo em inglês que pode ser traduzido como responsabilidade com ética e remete à obrigação, à transparência, de membros de um órgão administrativo ou representativo de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados....), responsabilidade corporativaOs agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu..., e sustentabilidade. Transparência, nesse contexto, não se resume a divulgar informações de forma obrigatória ou meramente formal. Ela envolve o compromisso de disponibilizar dados claros, consistentes e relevantes sobre a organização e suas decisões, indo além do cumprimento mínimo legal.
Isso significa compartilhar não apenas os resultados, mas também os processos de tomada de decisão, a lógica por trás das escolhas estratégicas e os critérios que norteiam a gestão. É uma forma de demonstrar respeito aos stakeholdersPessoas ou grupos de pessoas com algum grau de envolvimento ou interesse em uma organização ou entidade, tais como empregados, clientes, fornecedores ou cidadãos que podem ser afetados por determinada... e de reforçar a legitimidade da empresa.
A Falta de Transparência e Seus Impactos Negativos
Por outro lado, decisões opacas podem minar a confiança e abrir espaço para especulações, rumores e conflitos. Falhas de transparência costumam gerar consequências como:
- Desconfiança de investidores: a ausência de clareza sobre critérios estratégicos afasta capital e aumenta o custo de captação.
- RiscoQuantificação e qualificação da incerteza, tanto no que diz respeito a perdas quanto aos ganhos, com relação aos acontecimentos planejados. É um desvio em relação ao esperado. É uma incerteza... regulatório: decisões não explicadas ou mal documentadas podem ser questionadas por órgãos fiscalizadores, resultando em multas e sanções.
- Comprometimento da reputação: em tempos de redes sociais, falta de transparência pode rapidamente se transformar em crise de imagem.
- Engajamento interno prejudicado: colaboradores que não compreendem o porquê das decisões tendem a se sentir desvalorizados, o que impacta motivação e produtividade.
Transparência como Base da Confiança
A confiança é um ativo intangível essencial em qualquer relacionamento corporativo, seja com investidores, clientes ou a sociedade. E a confiança só existe quando há percepção de integridade e coerência entre discurso e prática. Nesse sentido, a transparência das decisões é um instrumento de alinhamento entre expectativas e realidade.
Quando uma empresa explica não apenas o que foi decidido, mas por que e como, ela demonstra responsabilidade e fortalece sua legitimidade. Essa postura evita mal-entendidos, reduz riscos de reputação e cria um ambiente mais propício ao engajamento dos stakeholders.
Desafios da Transparência
É importante reconhecer que a transparência não é um processo simples. As empresas enfrentam dilemas como:
- Proteção de informações estratégicas: até que ponto é possível abrir dados sem comprometer a competitividade?
- Complexidade técnica: algumas decisões envolvem informações altamente técnicas, de difícil compreensão para o público em geral.
- Sobrecarga de informação: divulgar em excesso pode confundir e dificultar a análise por parte dos stakeholders.
O desafio, portanto, está em encontrar o equilíbrio entre a clareza necessária e a confidencialidade estratégica, garantindo que a transparência seja útil e não apenas burocrática.
Conclusão
A governança corporativa é, antes de tudo, uma questão de confiança. E a confiança só pode existir quando decisões são tomadas de forma clara, consistente e aberta aos olhos de quem tem interesse legítimo na organização.
A transparência das decisões, enquanto princípio, é mais do que um requisito regulatório: é um diferencial estratégico. Ela garante legitimidade, fortalece relacionamentos, previne riscos e sustenta a reputação corporativa no longo prazo.
Em um mundo em que a sociedade cobra cada vez mais responsabilidade das organizações, a transparência deixa de ser uma opção para se tornar uma exigência inegociável. Empresas que a adotam como valor central caminham não apenas para o crescimento econômico, mas também para a construção de um legado sustentável, íntegro e de confiança.