Blog

Você já se perguntou por que grandes empresas, com toda uma estrutura de governança e compliance, quebram ou se envolvem em escândalos?

Casos como o da Enron, nos anos 2000, e o mais recente da Americanas (2023), mostram que o problema nem sempre está na falta de controles internos, e sim na forma como eles são aplicados, supervisionados e vividos no dia a dia.

O que esses casos têm em comum?

Ambas as empresas apresentavam estruturas e documentos de governança bem organizados (pelo menos no papel), mas enfrentaram falhas graves em áreas que deveriam funcionar como pilares de integridade.

Segundo o modelo COSO, um sistema de controle interno eficaz é sustentado por cinco componentes essenciais. Vamos entender cada um deles com uma lente prática:

  • Ambiente de Controle

É a base de tudo. Envolve a cultura da empresa, os valores praticados pela liderança e o exemplo que “vem de cima”.

O problema? Quando o foco está apenas em bater resultados e maximizar bônus, sem considerar os riscos e os impactos no longo prazo. Isso fragiliza a ética e cria uma cultura permissiva, onde o “jeitinho” é mais valorizado do que a integridade.

  • Avaliação de Riscos

Toda empresa precisa entender quais riscos enfrenta, e o que pode dar errado.

O problema? Metas agressivas e incentivos individuais (como stock options) muitas vezes colocam o interesse pessoal acima do coletivo. O risco é ignorado ou minimizado, desde que o número no fim do mês pareça bom.

  • Atividades de Controle

São os procedimentos que colocam o controle em prática: aprovações, verificações, segregação de funções.

O problema? Controles que existem só no papel. Na prática, são ignorados ou burlados até por quem deveria liderá-los. Resultado? Falsa sensação de segurança e governança que não se sustenta.

  • Informação e Comunicação

Boas decisões só são possíveis com informações confiáveis, completas e no tempo certo.

O problema? Quando dados são omitidos, distorcidos ou usados apenas para confirmar decisões já tomadas. Sem transparência e independência nas áreas de controle, os colegiados perdem poder real de supervisão.

  • Monitoramento Contínuo

Controles não podem ser estáticos. Precisam ser revistos constantemente.

O problema? O foco geralmente está só no início da relação, seja com clientes, fornecedores ou colaboradores. Mas e depois? Imagine um cliente que vira PEP (Pessoa Politicamente Exposta) após uma eleição, na reavaliação ele deveria mudar de perfil de risco. Sem o monitoramento e a reavaliação contínua esse tipo de mudança passa despercebido.

Outros pontos críticos revelados por esses casos:

  • Remuneração variável mal desenhada, com metas desconectadas da realidade e sem validação dos dados.
  • Conselhos de Administração passivos ou mal-informados, que não exercem seu papel de questionar, fiscalizar e direcionar.
  • Falta de reação aos sinais de alerta. Quando algo parece errado, ignorar é a pior decisão.

O que tudo isso nos ensina?

Controles internos eficazes não são burocracia, são ferramentas de governança. Quando bem aplicados, ajudam a garantir a longevidade da empresa:

Integridade, transparência, accountability, sustentabilidade e equidade.

Eles não funcionam sozinhos. Precisam estar integrados à cultura da organização, com apoio da liderança, revisão constante e decisões coerentes com os valores que a empresa diz praticar.