As negociações entre o Nubank e o banco Digimais começaram como uma aposta estratégica e terminaram em cautela. A fintech avaliou que o risco de imagem e as incertezas operacionais superavam os possíveis ganhos financeiros.

O Banco Central (BC), que acompanhava as conversas de perto, via na operação uma forma de transferir o controle do banco ligado a Edir Macedo para um grupo com estrutura mais sólida e bem avaliada pelo mercado.

Fundado por David Vélez, o Nubank chegou a enxergar no negócio uma oportunidade de avanço institucional. A aquisição do Digimais, também conhecido como Digi+, ofereceria licença bancária múltipla e crédito tributário relevante, dois trunfos capazes de acelerar sua entrada definitiva no sistema financeiro tradicional. Mas, à medida que os executivos mergulharam na due diligence, o entusiasmo deu lugar à prudência. Fontes próximas às tratativas relatam que o banco digital concluiu que os riscos à imagem e à governança eram altos demais para seguir adiante.

Risco reputacional pesou na decisão do Nubank e banco Digimais
Nos bastidores, a fintech mais valiosa do país avaliava que a associação com um banco controlado por um grupo religioso poderia abrir flancos delicados em governança e compliance. A isso se somavam as exigências do BC sobre ajustes contábeis e a origem dos ativos do Digimais, pontos que ampliavam a incerteza regulatória.

Fontes próximas a negociação do Nubank com o banco Digimais, afirmam que a fintech preferiu preservar sua reputação e seguir um caminho de crescimento orgânico, evitando integrar uma estrutura considerada sensível pelos órgãos de supervisão.

O histórico do banco Digimais foi determinante na decisão do Nubank, segundo fontes próximas às tratativas:

Origem: antiga denominação Banco Renner, com histórico de mudanças de controle.
Negociação: tentativa de venda ao Bluebank em 2023, avaliada em R$ 800 milhões.
Balanço 2024: lucro de R$ 53 milhões no ano.
Resultado semestral: prejuízo de R$ 45 milhões no segundo semestre.
Situação regulatória: sob acompanhamento regular do Banco Central, conforme rotina de supervisão do sistema financeiro.
Ambipar e o interesse pelo Digimais
Paralela à negociação entre o Nubank e o banco Digimais, a instituição também despertou o interesse do empresário Tércio Borlenghi Jr., fundador da Ambipar. Antes de a empresa entrar na fase mais crítica em que se encontra, Borlenghi participou de duas reuniões — em maio e julho — com representantes da instituição. Em uma delas, esteve presente o escritório jurídico que assessora o banco ligado a Edir Macedo, sinalizando que as conversas chegaram a um estágio inicial de avaliação. O interesse, no entanto, não avançou.

Governança e cautela no plano do Nubank pela aquisição do Digimais
Ao desistir da compra, o Nubank reafirmou sua estratégia de expansão baseada na solidez da própria estrutura. A fintech tem priorizado crescimento orgânicoe fortalecimento institucional, deixando aquisições de risco fora do radar. Mesmo com Roberto Campos Neto, ex-presidente do BC, hoje atuando como chefe de políticas públicas do Nubank, a empresa manteve postura conservadora, evitando qualquer percepção de favorecimento ou conflito de interesse.

Enquanto isso, o Banco Central ainda busca uma saída para o Digimais. De acordo com fontes ouvidas pelo Pipeline Valor, o regulador tenta atrair um novo controlador capitalizado para o banco, mas o episódio deixou claro o obstáculo mais difícil de superar: a barreira reputacional que acompanha a instituição.

Um retrato da prudência no sistema financeiro
O caso Nubank e banco Digimais traduz um ponto sensível do mercado financeiro brasileiro, o equilíbrio entre oportunidade e reputação. Em um cenário em que a confiança institucional pesa tanto quanto o retorno sobre o capital, a decisão do Nubank demonstra maturidade entre as grandes fintechs.

Disponível originalmente no Economic News Brasil. Publicado na CompliancePME em 24 de novembro de 2025