O segmento do Novo Mercado da B3, a Bolsa de Valorescrenças julgadas corretas em relação a interações com outras pessoas ou empresas. Saiba mais de São Paulo, é formado por empresas que escolhem aderir a regras de governança corporativaÉ o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e... Saiba mais mais rígidas, se tornando um exemplo para as demais. Mas, mesmo entre essas companhias, falta maturidade sobre ESGESG é uma sigla em inglês para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português). Geralmente, ela é usada para se referir às práticas ambientais, sociais e de... Saiba mais, aponta um levantamento da consultoria Bells & Bayes que analisou os relatórios não-financeiros das companhias disponibilizados aos investidores.
Das 191 companhias do Novo Mercado, 63% publicaram relatórios que congregam informações ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Contudo, apenas 29% delas têm algum tipo de auditoriaÉ um processo de verificação e análise de atividades desenvolvidas por uma determinada empresa. O seu objetivo principal é examinar se elas estão de acordo com o que foi planejado... Saiba mais para assegurar as informações, o que deixa os investidores vulneráveis ao greenwashing. As regras do Novo Mercado envolvem mais proteção a acionistas minoritários, por exemplo, mas não necessariamente questões ambientais e sociais.
As companhias do segmento muitas vezes são usadas como “benchmarking” das melhores práticas no Brasil. Na jornada de maturidade sobre a publicação de informações relevantes não-financeiras, a existência dos relatórios é um passo, mas não significa que a empresa esteja pronta. Além da necessidade de auditoria, as organizações também podem minimizar riscos importantes, ignorar oportunidades e relatar práticas diferentes das melhores do mercado.
Tanto a Comissão de Valores MobiliáriosComissão de Valores Mobiliários (CVM): órgão responsável por fiscalizar o mercado de valores mobiliários no Brasil. Saiba mais (CVM) como a B3 afirmaram ao Estadão que têm tentado incentivar as empresas listadas a aderir a determinadas regras, mas ainda sem obrigatoriedade.
A CVM passará a exigir que as empresas listadas em Bolsa divulguem informações não-financeiras segundo os padrões internacionais da International Sustainability Standards BoardGeralmente se refere à expressão completa “Board of Directors” que equivale ao Conselho de Administração no Direito Societário brasileiro. Órgão colegiado encarregado do processo de decisão de uma empresa em... Saiba mais (ISSB) em 2026, enquanto é possível seguir as regras de forma voluntária já em 2024. O órgão governamental também publicou resoluções com regras para o assunto.
Já a B3 tem guias e índices específicos para o ESG, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), criado em 2005, e o índice Carbono Eficiente (ICO2). A principal atitude, no entanto, foi o Anexo ASG, que dá até 2025 para as companhias reportarem boas práticas ambientais, sociais e de governança e para evoluírem na questão da diversidade, integrando ao menos uma mulher e uma pessoa de outra minoria (negra, indígena, LGBTQIA+ ou com deficiência) nos conselhos administrativos. A regra é “pratique ou explique”. Ou seja, quem não realizá-la não sofrerá punições, mas terá de publicar as razões, e a avaliação sobre os motivos fica a cargo dos investidores.
O levantamento da Bells & Bayes aponta que as empresas ainda têm um longo caminho a percorrer. O baixo número de relatórios auditados deixa os investidores expostos aos riscos do greenwashing, ou seja, de que as companhias não estejam aplicando as ações corretamente. “Tem empresas que reportam e fazem isso de forma madura, algumas que não reportam, e outras que tem informações muito vagas”, comenta Janaína Grossi, analista sênior da Bells & Bayes.
Além disso, o fato de reportar não significa que a empresa esteja aplicando as melhores práticas. “Uma coisa é como a empresa entrega informação e a outra é o quanto está distante da prática de fato. O relatório acaba sendo feito de uma forma lacônica, sem aprofundamento”, cita Wesley Mendes, membro do conselho da Bells & Bayes.
Para os pesquisadores, isso demonstra que a publicação de relatórios ESG pode ser usada apenas como estratégia de relações públicas, já que se tornou uma demanda dos investidores. A tática pode acabar dando errado: se as empresas nem sabem em que estágio de maturidade estão, é fácil para o público ver que o documento foi malfeito.
Nem sempre as publicações demonstram correção, com riscos subestimados e sem avaliação de oportunidades de novos negócios nos campos ambientais e sociais. No total, 80% das companhias detalham fatores de riscoQuantificação e qualificação da incerteza, tanto no que diz respeito a perdas quanto aos ganhos, com relação aos acontecimentos planejados. É um desvio em relação ao esperado. É uma incerteza... Saiba mais sociais; em termos de fatores ambientais, a parcela é de 83%; aspectos climáticos aparecem para 77%. No entanto, uma parcela significativa, aproximadamente 20%, ainda não menciona ou não identifica esses riscos. Para oportunidades, 70,7% as consideram em seu plano de negócio, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).
Um exemplo citado pelos pesquisadores de avaliação de riscosAvaliar a probabilidade e a severidade do dano. Probalidade x Impacto. Normalmente são avaliados em: baixo, médio, alto. Saiba mais malfeita é o de uma empresa do setor de turismo que avalia não ter riscos ambientais. As organizações brasileiras de tecnologia são especialmente ruins na publicação de informações, com apenas 31,3% publicando uma matriz de materialidade que indique temas ESG relevantes para a companhia e as partes interessadas.
Um marcador da maturidade é se a remuneração dos executivos está atrelada a atingir metas ambientais. Das companhias, apenas 24% das do Novo Mercado tomam essa atitude. “Considerar ESG na remuneração do executivo significa considerar a geração de valor, preservar o valor da companhia no longo prazo”, explica Mendes.
Pontos paralelos
Há temas que sempre aparecem nas discussões ESG, como o escopo de emissões de gases de efeito estufa: o escopo 1 é aquele emitido pela empresa em suas operações; o 2 é o quanto é emitido na geração da energia utilizada; o escopo 3 é das emissões em toda a cadeia de fornecimento.
Nesse aspecto, os números também são ruins: 52,9% das companhias alegaram monitorar os escopos 1 e 2. Já o escopo 3 é monitorado por 46%. E, novamente, monitorar não necessariamente quer dizer já estar tomando ações para diminuir as emissões. “Pode ter uma crença da empresa em achar que não está exposta a esse problema das emissões e escopos. Só quando percebem uma pressão do investidor doméstico e internacional para se adequarem”, diz Mendes.
Em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 17 metas estabelecidas pela ONU para 2030, 32% das organizações não reportam ou não os consideram. Entre os citados, o mais frequente é o de número 8 (trabalho decente e crescimento econômico), citado por 58% das companhias que falaram deles. O ODS 14 (vida na água) é o menos citado, em somente 10% das publicações. “Algumas companhias ou fundos podem ter como critério investir num determinado ODS para as empresas menores. Por isso, não é somente reportar, precisa ser mais profundo, ter ODS na estratégia ESG”, adverte Grossi.
Diversidade
As empresas também demonstraram estar atrás das melhores práticas internacionais em relação à diversidade na alta administração — 82% das companhias analisadas informaram não ter, ou não mencionaram, objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração. A pesquisa também detectou que, em 50% das empresas, as mulheres não estão presentes na diretoria; no conselho de administração, o índice é de 27%.
Os autores consideram difícil entender por que a evolução no assunto tem ocorrido tão devagar, mesmo com iniciativas brasileiras e internacionais, incluindo a da própria B3, e reforçam a importância do tema. “Com pessoas de diferentes histórias, idades, raças, gêneros, é possível entender melhor o mercado e ter ideias diferentes e inovadoras para chegar ao sucesso”, afirma Grossi.