A temática que atende aos princípios ambientais, sociais e de governança, ou seja, o ESG (Environmental, Social and Governance), está em forte evidência. Apesar de termos ilhas de excelência como a Natura, reconhecida por suas ações nestes três pilares, e alguns bons exemplos e iniciativas em setores como financeiro, agronegócio, automobilístico, energia, mineração e aéreo, infelizmente ainda não estamos num momento em que o ESG está presente e consolidado nas organizações públicas e privadas do Brasil. E já vimos isto antes. Por exemplo, o compliance anticorrupção e, mais recente, a privacidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), não havia nas organizações, mas passou a ter.

Quando pensamos na temática sustentabilidade, este não é um assunto recente e já se faz presente. Por isso, algumas empresas já possuem o responsável pela temática ESG, enquanto em outras organizações há atribuições descentralizadas e ainda há aquelas que não têm nada estruturado. Em todos estes cenários, se a organização tiver, ao menos, um gestor de Compliance, ela já tem um importante aliado que pode ser aproveitado. No pilar “G” de Governança, por exemplo, o Compliance atua de forma direta. Esta é a área responsável pelo código de ética e, tipicamente, pelo canal de denúncias. O código pode ser um instrumento estratégico para fortalecer e promover as diretrizes corporativas, fomentando uma cultura ética e de respeito ao meio ambiente, à diversidade e às minorias, por exemplo.

O canal de denúncias é chave para a empresa identificar os casos de não conformidade. Em volume de relatos, tipicamente, a maior parte se concentra em casos de assédio e de desvio de comportamento. A organização precisa ter condições para apurar adequadamente as denúncias recebidas e aplicar as sanções cabíveis. Ações preventivas, como treinamento, comunicação e pesquisa de cultura de compliance podem suportar a organização no combate ao racismo, à intolerância e ao bulliying. O profissional de Compliance, que já está acostumado a trabalhar em conjunto com outras áreas, como RH e Auditoria Interna, também pode trabalhar em parceria com a área de ESG, Sustentabilidade ou Diversidade. São esforços que se somam quando feitos de forma harmônica e coordenada.

Quando pensamos no pilar “S”, de Social, há diversas formas do Compliance ajudar na realização de processos seguros e efetivos. Ações de responsabilidade social, como doações e patrocínio, por exemplo, devem ser respaldadas por políticas especificas, assim como as mitigações de riscos de terceiros devem ocorrer por meio do processo de due diligence, tendo a devida formalização e prestação de contas. Sempre que necessário, auditorias devem acontecer para comprovar a aplicação correta dos recursos aportados.

O Compliance tem a preocupação com o atendimento das legislações, das regulamentações aplicáveis ao negócio e com a proteção da reputação da organização, mas não se limita a elas, pois há ainda a questão de ética nos negócios como balizador. Existem diversas leis e regulamentos que tratam de questões ambientais e trabalhistas e, nestes momentos, assim como o Jurídico, o Compliance pode ser um aliado no atendimento dos pilares ambientais (“E”) e sociais (“S”), assim como no mapeamento dos riscos associados. Sim, é importante lembrar que as organizações precisam mapear e gerenciar os riscos de negócio e a temática ESG precisa estar contida nestes trabalhos. E os principais riscos listados no último Fórum Econômico Mundial reforçam a necessidade de ter esta preocupação e responsabilidade.

E quando uma organização não tem uma estrutura de ESG? Nestes casos, o Compliance, que tem acesso ao Conselho e à Alta Direção da empresa, pode, a partir do seu trabalho, apontar os caminhos e primeiros passos a serem dados, em especial nos pilares de governança e social. Pode também empregar a sua experiência prévia em estruturação de Programa de Compliance para ajudar no desenho e adoção deste novo Programa, com foco na questão ESG, e também na estruturação da governança deste Programa. Sua experiência com ações de engajamento e gestão da mudança também podem ajudar a inserir a temática ESG na cultura organizacional. E este é um trabalho que pode ser feito em conjunto de outras áreas, como RH, SSMA, Jurídico, Relações Institucionais e Governança.

O Compliance não tem por objetivo a sustentabilidade, mas o seu trabalho colabora para que os negócios sejam sustentáveis e perenes. A ética e o respeito permeiam o Programa de Compliance efetivo, assim como as ações ESG. E, já que é importante as organizações adotarem o ESG, que isto seja feito usando os melhores recursos disponíveis. E certamente o Compliance pode ser um parceiro relevante nesta nova jornada.

Por Jefferson Kiyohara, diretor de compliance na Icts Protiviti

 

Esta notícia foi publicada originalmente no Infor Channel

Publicado na CompliancePME em 25 de setembro de 2020