Desde ontem e provavelmente pelos próximos dias (ou semanas), acompanharemos os avanços nas eleições americanas e seus impactos ao redor do mundo. O resultado será conhecido em breve, mas o que não percebemos é que também estão sendo votadas nada menos que 124 outras medidas pelos estados americanos, tais como: (i) avanço do sistema de saúde para população de baixa renda – como nos casos de Missouri e Oklahoma; (ii) Mississipi abolindo de sua bandeira um antigo símbolo escravocrata. Além, claro, de avanços históricos como a primeira eleição de uma Senadora Transsexual de Delaware, Sarah McBride.

Os Estados Unidos são uma democracia complexa. Historicamente, os americanos votam não somente para cargos públicos, mas também realizam plebiscitos para medidas julgadas relevantes. Seus conceitos democráticos são históricos e extremamente consolidados em sua cultura. Por exemplo, a lei que define a votação na primeira terça após a primeira segunda-feira de novembro é de 1845.

Mas você, que chegou até aqui, pode se perguntar: qual a relação entre a eleição americana e um artigo sobre compliance? Na minha visão, a resposta é simples: o fortalecimento da cultura deve ser o principal objetivo dos programas de compliance criados pelo país e, por consequência, privilegiar a difusão de boas práticas e do fomento à integridade será o principal objetivo desta coluna. Assim, grandes mudanças que estão sendo implementadas pelo país devem e serão discutidas por aqui, em artigos e em debates com grandes especialistas.

E, para você leitor, o que é o compliance? Na nossa visão, trata-se de uma ferramenta de gestão, com o objetivo de difundir conceitos éticos, revisar processos internos e reduzir riscos. E no qual a força de uma cultura sólida é absolutamente determinante para a eficácia do programa. No dia a dia da execução dos programas, podemos resumir que o “tom do topo” (a voz da liderança) e conhecimento e prática efetiva dos objetivos do programa de compliance são as ferramentas mais determinantes para o seu sucesso.

Programas de compliance se tornam ainda mais relevantes em um ano em que vivemos a pandemia do coronavírus. Isso porque em tempos turbulentos, precisamos refundar nossas certezas e nossos objetivos, seja pela convicção ou mesmo pela necessidade. E há muito espaço para o otimismo.

Em 2019, a Revista Exame, a FSB Comunicação e a Fundação Dom Cabral lançaram o primeiro Guia Exame de Compliance, que teve o objetivo de avaliar a efetividade de programas de Compliance pelo país e difundir boas práticas. O Guia foi um absoluto sucesso de inscrições já no seu primeiro ano e nos apresenta alguns números interessantes:

(i) 50,7% dos inscritos foram grandes empresas. Portanto, 49,3% dos inscritos foram médias e pequenas empresas – tal dado mostra a difusão dos programas em todo o mundo corporativo;

(ii) Somente 54,4% dos inscritos participam em licitações – o que demonstra, por exemplo, que os programas vão muito além das preocupações com o risco anticorrupção. Tal risco é obviamente relevante, mas Compliance não é monotemático;

(iii) 86,6% dos participantes demonstram clara preocupação em comunicar suas políticas de compliance a todos os seus atores e públicos de interesse;

(iv) Engajar o público internos foi percebido como o item de mais difícil implementação, entre outros 13 itens medidos. Já elaborar as políticas de compliance foi considerado o item de implementação mais fácil. Tal análise demonstra que a preocupação não é ter “programas de prateleira”, mas sim desenvolver programas efetivos e culturalmente reconhecidos, interna e externamente.

De fato, a transformação que se exige de nossas organizações não será possível sem solidez de cultura e eficiente comunicação. Recente pesquisa realizada pela consultoria Holmes PR com 400 empresas nos Estados Unidos e Reino Unido concluiu que empresas que sabem se comunicar com eficiência trazem retornos 47% mais altos – dado que se torna ainda mais relevante em tempos de crise. 

Definitivamente, vivemos um período de perseverança e superação. E quem construir instituição resiliente e se ressignificar com eficiência colherá melhores resultados.

E você, o que tem feito em sua instituição para difundir boas práticas e a cultura de compliance?

Por Renato Cirne,Diretor Jurídico e de Compliance da FSB Comunicação

Esta notícia foi publicada originalmente no portal Exame

Publicado na CompliancePME em 4 de novembro de 2020