A governança corporativa está no centro das decisões que moldam o futuro das organizações. Com o crescimento das expectativas em torno de práticas ESG (Environmental, Social and Governance), fica claro que a governança precisa evoluir para abranger uma perspectiva mais ampla de impacto. Não se trata apenas de conformidade ou de atender às demandas imediatas de stakeholders, mas também de antecipar e mitigar riscos que, muitas vezes, podem ser subestimados.

Uma pesquisa recente, realizada pela Deloitte, indica que empresas com práticas robustas de governança ESG apresentam um desempenho 20% superior em termos de retorno sobre o investimento (ROI) quando comparadas àquelas que ignoram esses fatores. O dado, por si só, revela a importância de uma governança que vá além do básico. No entanto, apesar desses números, muitas organizações ainda tratam ESG como um adendo, em vez de integrá-lo em suas estruturas de governança. Nesta integração, os componentes fundamentais da governança devem ser reforçados, tais como: integridade, transparência, equidade, responsabilidade e a própria sustentabilidade.
A falta de identificação e mitigação de riscos que podem estar fora do radar da empresa, mas que, com o tempo, podem se transformar em crises de grandes proporções, é hoje um grande desafio. Esses são os riscos de baixa probabilidade, mas de alto impacto. As empresas que incorporam práticas de governança ESG de forma estratégica reduzem os custos associados a crises de reputação e operacionais, pois desenvolvem a capacidade de prever e se preparar para desafios que outras companhias considerariam improváveis.
Ronaldo Fragoso é vice-presidente da Diretoria do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP) e sócio da Deloitte

Além disso, o mercado está cada vez mais atento a essas questões, reforçando a necessidade de as organizações ampliarem sua perspectiva de impacto e garantirem que suas práticas de governança estejam alinhadas com as expectativas de um mercado que valoriza a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa.

Governança corporativa não é apenas sobre evitar erros e minimizar riscos – é sobre criar um ambiente em que os riscos são geridos de forma proativa e a empresa está preparada para liderar em um futuro sustentável. Líderes que entendem isso não apenas protegem suas organizações contra crises, mas também as posicionam para aproveitar novas oportunidades. A evolução da governança corporativa é essencial para que as organizações possam navegar pelos desafios atuais e futuros. Ao ampliar a perspectiva de impacto, os líderes não apenas cumprem sua responsabilidade, mas também garantem que suas organizações estejam preparadas para liderar de forma sustentável e inovadora. A questão não é se a governança ESG é importante – é como integrá-la de forma eficaz para maximizar o valor e mitigar riscos em um mundo em constante mudança.

Tema cada vez mais essencial diante de um ambiente de negócios dinâmico, a governança ESG tornou-se o elo entre os objetivos financeiros das empresas e as ações necessárias para a conformidade com as regras internas e externas. No caso do Brasil, as normas são bastante rígidas e exigem conhecimento altamente especializado.

Os modelos de governança ESG devem buscar alinhar os resultados esperados pela administração com a realidade cotidiana das corporações. Sem um modelo adequadamente desenhado e implementado, o risco de não alcançar os resultados esperados e de não atender às questões de conformidade é muito alto.

Para garantir o crescimento sustentável das companhias, as áreas de ESG precisam buscar a avaliação e o aperfeiçoamento contínuo das práticas de gestão e encontrar o ponto de equilíbrio entre as necessidades da empresa, as melhores práticas do mercado e o cumprimento das questões regulatórias. Atualmente, existe uma diversidade de assuntos de governança na pauta das empresas, incluindo os aspectos necessários para reporte ESG que impactam empresas de capital aberto e fechado.

A boa governança ESG envolve o desenvolvimento de um sistema de gestão que coordene as responsabilidades corporativas, as relações entre os órgãos externos, acionistas, o conselho de administração e a gestão das operações.

Tecnologias emergentes, como inteligência artificial/GenAI e robótica, poderão contribuir para a construção de uma governança ESG muito mais eficiente. Esses avanços permitirão que os profissionais utilizem ferramentas mais adequadas e precisas para o monitoramento, análise e geração de dados, proporcionando maior aderência ao processo de divulgação de informações financeiras e não financeiras, tanto internas quanto externas.

 

Autoria:

Ronaldo Fragoso é vice-presidente da Diretoria do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP) e sócio da Deloitte desde 2004, tendo mais de 30 anos de experiência em Auditoria e Consultoria Empresarial. Atualmente, é CGO (Chief Growth Officer) da Deloitte Brasil e professor convidado de Governança Corporativa na Universidade Mackenzie. É formado em Ciência da Computação (Universidade Mackenzie), com pós-graduação em Administração Geral, Finanças e Sistemas Integrados (CEAG-FGV); Mestre em Administração (EAESP-FGV). Possui cursos de especialização em Finanças (HBS – Harvard Business School) e Transformação Digital (UCD – Universidade de Dublin), e cursa Doutorado em Finanças (Universidade Mackenzie).

Maria Emília Peres é sócia na Deloitte, onde lidera iniciativas de inovação e sustentabilidade com foco em diversos setores e com foco na transição para uma economia de baixo carbono. Com mais de 17 anos de experiência no setor de mineração e uma sólida trajetória em consultoria estratégica, Maria Emília é uma referência em governança corporativa, ESG, e desenvolvimento de novas estratégias de negócios sustentáveis. Ela é reconhecida por sua habilidade em transformar desafios complexos em oportunidades de crescimento, sempre com um olhar inovador e focado no futuro dos negócios. Maria Emília é palestrante frequente em eventos internacionais e tem contribuído ativamente para discussões sobre o futuro da sustentabilidade e a descarbonização da indústria.

Disponível originalmente no site do Valor. Publicado na CompliancePME em 2 de setembro de 2024