A Justiça Federal determinou a avaliação da integridadeConjunto de escolhas que estejam em sintonia com as crenças pessoais e os valores da empresa, prezando pela ética nas tomadas de decisões. de 48 HDs (hard disks, ou discos rígidos de computadores, em inglês) de provas da investigação da fraudeDesvio de comportamento com a intenção de enganar terceiros e adquirir vantagens ilícitas, seja em relações pessoais ou comerciais. bilionária nas Lojas Americanas. A verificação será iniciada em dezembro e vai dizer se os dados coletados foram adulterados, conforme informações do processo a que o UOL teve acesso. O tratamento dado às provas virou motivo de disputa e emperra o andamento do caso.
O que aconteceu
A Justiça Federal determinou que a consultoria Ernst & Young faça a verificação da integridade das provas colhidas nas Americanas. Nesse processo, chamado de hashing, é possível verificar se os dados coletados originalmente na companhia continuam inalterados. O objetivo é garantir que as provas não foram manipuladas.
O conteúdo dos HDs será então processado para que possa ser acessado por todos os interessados. Serão feitas cópias para as defesas de cada um dos denunciados e uma para ficar à disposição da Justiça — o caso está na 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Só então será possível dizer se as provas são válidas.
O trabalho com os HDs deve começar em dezembro. A expectativa é que o processamento dos dados demore cerca de dois meses. Com isso, o acesso ao conteúdo deve ficar para 2026.
A dificuldade em acessar o material é uma das razões pelas quais a Justiça ainda não aceitou a denúnciaAto pelo qual alguém leva ao conhecimento dos responsáveis um fato contrário à lei, à ordem pública ou a algum regulamento, que seja e suscetível de punição ou correção.... oferecida pelo MPF. Em março, o Ministério Público Federal denunciou 13 ex-executivos da varejista como responsáveis por uma fraude de R$ 20 bilhões na companhia.
HDs em disputa
O tratamento dado às provas virou motivo de disputa. Foram coletados 48 HDs de informação na empresa, mas apenas um deles teve os dados disponibilizados de forma acessível. Os demais HDs estão em formato bruto e permanecem inacessíveis, conforme informações do processo.
Acionada pela Justiça, a Polícia Federal disse que é necessário usar ferramentas específicas para abrir os HDs. A Justiça então determinou que a empresa que coletou os dados encontre uma solução tecnológica para o problema.
A solução ficará a cargo da consultoria Ernst & Young, que foi quem fez a coleta de dados nas Americanas. O trabalho da consultoria será acompanhado por um perito da Polícia Federal e por assistentes técnicos indicados pelas defesas dos executivos denunciados.
As defesas dos executivos denunciados dizem que há conflito de interessesÉ um conjunto de condições nas quais o julgamento de um profissional a respeito de um interesse primário tende a ser influenciado indevidamente por um interesse secundário., pois as provas serão processadas pela consultoria que foi contratada pelas Americanas. A Ernst & Young prestou serviços de tecnologia e investigação forense ao comitêGrupo de pessoas escolhido para análisar assuntos específicos, podendo ser composto por membros externos da empresa; independente criado pela varejista em 2023 para investigar a fraude.
Os advogados afirmam ainda que as provas podem ser consideradas ilegais. Isso porque elas não foram coletadas pela PF e não há garantia de que os dados não foram alterados, dizem. O questionamento motivou a determinação para que a integridade das provas seja avaliada.
O que dizem as Lojas Americanas
Em nota, a varejista diz que entregou todos os dados de seus servidores e equipamentos. “Qualquer insinuação em sentido contrário não passa de repudiável tentativa daqueles que vêm sendo acusados de fraudar a companhia de evitar sua responsabilização judicial”, diz a empresa.
A Americanas informa que, cumprindo rigorosamente determinações judiciais e das demais autoridades competentes, entregou às autoridades a integralidade dos dados dos seus servidores e equipamentos corporativos. As autoridades têm, portanto, à sua disposição uma cópia fiel e integral das informações extraídas. Qualquer insinuação em sentido contrário não passa de repudiável tentativa daqueles que vêm sendo acusados de fraudar a Companhia de evitar sua responsabilização judicial. A Companhia reafirma que é a maior interessada no esclarecimento dos fatos e continuará cooperando, de forma incondicional, com todas as frentes de investigações.
Americanas, em nota
A EY disse que não foi intimada pela Justiça. Disse também que segue “protocolos rígidos para aceitação de novos trabalhos, que incluem uma análise criteriosa sobre eventuais conflitos de interesse e de independência” e que tem compromisso com “os mais altos padrões de éticaConjunto de ações normativas que guia o comportamento de uma organização ou de um indivíduo, estabelecendo boas relações sociais. A ética é o estudo da moral., independência e conformidade regulatória”.