Indivíduos com perfil de liderança tendem a ser classificados como “mandões”, “grossos” e até “estressados” por seus pares. Apesar de banalizados, tais adjetivos nada têm a ver com as características de um líder nato, que deve perseguir atributos como confiança, alto desempenho, comprometimento com o trabalho, visão sistêmica, lealdade, dentre outros.
Tornar-se um líder é menos sobre dar ordens e ser reconhecido por posições de prestígio dentro de organizações. O bom líder, como considera o manual de boas práticas, sequer se vale desse esforço, uma vez que seus liderados sabem exatamente como atuar em cada situação.
O bom líder também não entende de todos os assuntos. Ao contrário, conhece bem seu time e sabe juntar as pessoas certas para a solução de problemas específicos. Conclui-se, a princípio, que liderança não é tanto sobre o líder, mas sobre os liderados. Sendo assim, a partir daqui, nosso foco será outro.
A Interact/Harris realizou uma pesquisa em 2015, publicada na Harvard BusinessNegócio ou a atividade-fim da empresa. Review, que muito interessa à temática da liderança. Nesse estudo, feito online com cerca de mil trabalhadores americanos, descobriu-se uma notável falta de inteligência emocional entre os líderes empresariais.
As principais falhas que os funcionários apontaram de seus líderes foram: falta de reconhecimento, instruções pouco claras, falta de tempo para reuniões de equipe, recusa a comunicar-se com subordinados, assumir créditos pelas ideias de outros, desconhecer o nome de seus colaboradores, recusa a falar com pessoas ao telefone e pessoalmente e ignorar a vida dos funcionários fora da empresa. A partir desse resultado, nota-se que os apontamentos feitos foram justamente aqueles com relação aos seus liderados.
Atualmente, as comunidades globais vivenciam uma nova revolução, impulsionada pela inteligência artificial e tecnologias avançadas. Cidadãos são invadidos por toneladas de informações irrelevantes, superficiais e não confiáveis. Algoritmos direcionam o consumo e o gosto dos consumidores, padronizando comportamentos e limitando ainda mais o tempo, que encontra-se ainda mais escasso.
Nesse panorama, é urgente a compreensão de que humanos não são capazes de acompanhar a velocidade das máquinas. Não há como estar atualizado sobre todas as notícias dos feeds das redes sociais, e pouco importa o desenvolvimento de tecnologias disruptivas sem que pessoas éticas possam operá-las.
Diversas empresas tendem a desperdiçar tempo e dinheiro promovendo pesquisas de clima e reorganizando a pirâmide hierárquica. Poderiam, em vez disso, dedicar esforços a conectar pessoas, criar vínculos e gerar oportunidades para que haja um ambiente mais humano e propenso à auto expressão, sem temer represálias, humilhação ou apropriação de ideias.
O papel de um líder é fundamental nesses termos. A título de comparação, um líder tem muitas semelhanças com um maestro, responsável por coordenar os músicos de uma orquestra. Só que, em vez de música, trata-se de desenvolver as habilidades cognitivas e emocionais de seus liderados para o alcance do propósito comum, seja ele qual for, e o progresso individual de cada um.
O líder que sabe usar a tecnologia a seu favor — tanto por sua velocidade, quanto pelo seu potencial de armazenamento de informações e dados — sai na frente dos demais. Pois graças a essas facilidades, ele é capaz de desenvolver habilidades humanas e recrutar os melhores profissionais para atividades específicas. Mas isso levando em consideração um ambiente seguro, de alta confiança, empatia, colaboração e, sobretudo, éticaConjunto de ações normativas que guia o comportamento de uma organização ou de um indivíduo, estabelecendo boas relações sociais. A ética é o estudo da moral..
Essa tarefa, ao que se pode concluir dos atuais líderes — sejam eles governantes de países ou CEOs de empresas —, está longe de ser concluída da melhor forma. O que leva-se a concluir que, em verdade, liderança não está necessariamente associada com hierarquias e cargos, noções que podem gerar presunções irrealistas como a de “quem está no topo é competente”. Tal afirmação trata-se de uma farsa.
As estruturas de liderança recentes geram uma série de intrigas entre indivíduos pelo poder, responsáveis por desgastes emocionais e às custas de precioso tempo de profissionais verdadeiramente competentes, que poderiam focar em outros assuntos que não o próximo degrau da hierarquia. A saber: trabalhar melhor com seu time, de forma harmônica e direcionada por um objetivo coletivo comum.
O líder nato não pode e não deve se deixar envolver por tais intrigas, ou se corromper por interesses puramente individuais. Seu papel é trabalhar para que os liderados sejam o foco de todas as questões e decisões: quem são, como vivem, o que pensam, o que querem, quais são suas ambições, o que os torna únicos e valiosos para aquela organização e qual o sentido que estar naquela organização dá à sua vida.
A partir dessa extensa exposição, fica claro que liderança é sobre atuar na coletividade da melhor forma possível — coordenando os interesses das empresas com os interesses individuais de cada membro da equipe. É um cargo verdadeiramente desafiador, levando em conta as dificuldades comportamentais e adversidades da economia global.
Por isso, mostra-se fundamental a imersão no conhecimento e estudo constantes sobre modelos de empresas e organizações que conseguiram prosperar, tanto em valor de mercado, quanto em satisfação de seus funcionários.
*Camila Gullo, Fundadora da plataforma CompliancePME, Gestora Jurídica e palestrante da 1ª Jornada de Liderança da CompliancePME
Originalmente publicada na LexLatin