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A CompliancePME foi apoiadora institucional do “2º Encontro sobre Ética nos negócios” promovido pelo Espaço Ética, que aconteceu no último dia 27 de novembro, no Centro Empresarial World Trade Center, em São Paulo, tendo tido como tema principal ética corporativa e contado com palestrantes conceituados da área de filosofia e de negócios.

Chegamos bem cedo, às 8:30 da manhã, para o credenciamento e um café onde houve um espaço para ricos debates entre os presentes. O evento foi bem plural em relação aos participantes, com público desde profissionais no ramo da educação, escritores, Compliance Officers, até estudantes do ensino médio de escolas públicas.

Com todos acomodados em um confortável auditório, abriu-se 9:30 em ponto o evento teve início. Quem abriu as palestras foi Luc Ferry, filósofo, professor e ex-ministro da educação da França. Ele palestrou sobre inteligência artificial e a sua relação com a economia colaborativa. Começou explicando que estamos vivendo uma revolução tecnológica (mais especificamente em uma fase que ele determinou como a ‘’era da inteligência artificial’’) e que esse novo tempo tem ligação direta com a chamada economia colaborativa. Para ilustrar esse ponto, nos deu o exemplo da relação entre os tópicos acima na mobilidade urbana, falando da ‘’disputa’’ entre os taxistas e “motoristas de aplicativos”. Em sua opinião, esse tipo de dualismo é, no âmbito ético e moral, muito difícil de resolver por se tratar de uma legitimidade ambígua, onde os dois lados opostos possuem, até certo ponto, razão em seus argumentos. Ou, em outras palavras, os dois lados estariam certos.

Falou ainda sobre a possibilidade de que a inteligência artificial futuramente substitui o trabalho humano e sobre a necessidade de debates nesse sentido por parte dos políticos e executivos responsáveis pelas regulamentações nos setores que serão afetados, quando utilizou o exemplo dos ainda pouco conhecidos carros ‘’auto pilotados”. O professor de filosofia defendeu que o ponto moral central do debate seria a qualidade do trabalho exercido pelos seres humanos e defende que nenhuma máquina conseguiria substituir o trabalho humano em função do que ele chama da tríplice importância do ser: coração (emoção), cabeça (racionalidade) e mão (Trabalho braçal).

Para encerrar sua palestra, ilustrou aos presentes o fato de estarmos vivendo o que ele denomina de ‘’Movimento Transhumanista’’ que seria a utilização da biotecnologia para a criação de um novo ser humano e nos convidou a pensar criticamente sobre esse movimento e instituir os conceitos éticos envolvidos nesse debate para ponderar e criar senso crítico sobre o assunto.

Em seguida, deu-se a palavra para a Monja Coen que abriu sua palestra convidando todos ali presentes a fazer um exercício de respiração e meditação.

Após esse valoroso exercício, ela começou suas ideais nos contando o que acha sobre o conceito de Ética. Nos mostrou sua visão bipartida, onde haveria, para ela, um corpo físico e a consciência, ambos em constante fluxo e mutação sendo a Ética, por isso, também mutável. No que concerne a isso, ela nos explicou que o corpo físico tem uma ética própria (que seria como externamos nossos valores) e a consciência teria também sua própria ética. ‘’nós podemos mascarar a realidade através das palavras, mas não através de nossos corpos. ’’ Para ela, o ser humano teria apenas 5% de livre arbítrio aonde o resto de todas as decisões que tomamos seriam realizadas através de influências externas, e que isso delimitaria a nossa forma de pensamento e expressão.

Além disso, em sua visão, hoje vivemos um mundo onde existem pessoas escolhendo o que e como devemos pensar e que as informações nos são entregues “mastigadas”.  Finalizou seu discurso com a frase ‘’se cada ser humano não se transformar em seu próprio interior, podem mudar tudo, instituições, leis e regras de conduta, tecnologias e tudo o mais… sem que se mude o interior do ser humano, não haverá verdadeira transformação. ’’. No que tange a Ética nos negócios, para ela, o ponto focal está em se identificar e se conectar com seus colaboradores que o resto se adéqua naturalmente aos valores éticos disseminados.

Logo após, a vez foi da mestra em filosofia política Djamila Ribeiro.

Sua fala começou com uma frase que de imediato impactou todo o auditório ‘’o primeiro passo é a quebra do silêncio ’’, o que nitidamente fez com que todos ali  aguçassem sua atenção sobre o que estava prestes a ser dito.

Em seguida, utilizou seus slides recheados de dados estatísticos e estudos históricos, políticos, filosóficos e empíricos da sociedade em que vivemos no que se refere ao racismo. Como breve exemplo, nos mostrou, com base em dados históricos, que o estudo da evolução biológica foi usado durante muito tempo para legitimar o racismo. Ilustrou também o papel que teve a Lei de Terras, em 1850, em intensificar as desigualdades raciais no Brasil com a cessão de terras e privilégios aos povos europeus.

Ela nos explicou que enxerga o racismo como um sistema de dominação e opressão e, por isso, haveria a necessidade de se mudar a visão desse sistema enquanto esfera individual se quiséssemos de fato criar mecanismos de combate a ele.

Em meio a sua palestra faltou luz no ambiente todo, momento em que houve a breve interrupção da produção do evento para explicar que houve problemas técnicos e, por conta disso, ela precisaria ir para o staff até que o gerador fosse ligado. Para espanto dela e de toda a produção, os que estavam ali presentes ouvindo suas ideias com afinco clamaram para que a deixassem no palco. Foi ao som de gritos ‘’continua, continua, continua’’ que Djamila continuou sua palestra sob a iluminação de diversas lanternas de celular daqueles que a ouviam atenciosamente.

Já com o retorno da energia, finalizou sua palestra falando sobre a Ética no ambiente corporativo,  afirmando que o combate às desigualdades dentro do ambiente empresarial gera vantagem competitiva por diversos fatores, dentre eles a ampliação do mercado consumidor e a inovação no desenvolvimento de ideias de negócios pois, segundo ela, ao se ampliar os perfis de colaboradores em uma empresa o resultado é ‘’chegar mais perto’’ de um público que não se chegava por falta de empatia e representatividade.

E foi com grandes aplausos à Djamilla que a produção do evento deu um breve intervalo onde houve espaço para um Coffee Break e mais networking entre os presentes.

Como o evento foi muito rico em palestras e experiências, nós decidimos dividir esse artigo em duas partes para que você possa aproveitar de um conteúdo mais completo.

No dia 13/12 publicaremos aqui no portal o que rolou com as palestras de Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial da cidade do Porto; Deltan Dallagnol, Procurador da República; e do historiador Leandro Karnal além de uma surpresa que conseguimos exclusivamente aqui para a CompliancePME. Portanto, fique atento em nossas redes sociais e aqui no nosso portal.

 

Publicado na CompliancePME em 4 de dezembro de 2018