Esse é um tema muito presente hoje em alguns setores da sociedade e especialmente no ambiente organizacional. Quero abordá-lo sob a perspectiva de que não é alvo de badalação e ainda não está no radar da maioria dos bons programas de complianceSubstantivo advindo do verbo to comply (agir de acordo, cumprir, obedecer). Estado de estar de acordo com as diretrizes ou especificações estabelecidas pela lei ou regras, políticas e procedimentos de....
Pense no momento atual. Vivemos em um mundo pós-crise pandêmica, típico dos períodos pós-guerra, que deixou efeitos na psique das pessoas: sensibilidade emocional agigantada, olhar mais egoísta para prazeres individuais e maior negligência com o coletivo – um movimento contraintuitivo. A temperatura está alta.
Competência e coragem são os requisitos necessários para se contrapor a algumas demandas do cliente sempre que atendê-las gere prejuízo no endereçamento de suas necessidades — Foto: Unsplash
Ameaças ainda rondam as cabeças das pessoas. É preciso atenção para essa ameaça. A “guerra” da covid-19 trouxe forte comportamento voltado ao bem coletivo. Com o atual viés, desmancha-se no ar a esperança da primazia do coletivo.
Metaverso? Fuga da realidade? Essa também é uma discussão da qual a maioria não se ocupa. Aliás, o não enfrentamento dos problemas é escape psíquico típico de uma era pós-crise. Na tentativa de escapar da dor, das dificuldades, e ignorando o “outro lado”, a beleza da vida, as pessoas mergulham em um universo paralelo. Aqui entra o chamado “metaverso”. Hoje, aliás, se de algum modo você o questiona, é considerado antigo, dinossáurico…
Recentemente, em conversa com meu amigo Silvio Meira, um craque na seara digital, ele disse: “O metaverso ainda não existe e tem gente dizendo que está nele”. Ele pode afirmar isso, eu não, mas vale a reflexão: seria mais uma demonstração de fuga da realidade ou de incompetência? Há integridadeConjunto de escolhas que estejam em sintonia com as crenças pessoais e os valores da empresa, prezando pela ética nas tomadas de decisões. no estímulo a isso?
Dias atrás ouvi relato de uma pessoa por quem tenho muito apreço, presidente de grande empresa: “Não vou mais contratar a empresa X. Eles não têm integridade intelectual. Fazem o que o cliente pede, sem foco no que ele precisa, no que nós precisamos”.
Competência e coragem são os requisitos necessários para se contrapor a algumas demandas do cliente sempre que atendê-las gere prejuízo no endereçamento de suas necessidades.
Não se deseja perder o cliente? Não se quer estressar a relação? Falta robustez técnica para sustentar o que o cliente precisa em vez de fazer o que ele deseja? Se o foco é garantir faturamento a qualquer custo, ou se falta consistência e firmeza na escolha, perigo! Não há espaço para profissionais medianos. São muitas as possíveis razões dessa escolha equivocada, mas a integridade passa longe de todas elas. Quem sabe vale também fazer o mesmo raciocínio para as relações com o seu “chefe”?
Nesse sentido, trago uma oportuna relação entre os dois comportamentos analisados, sempre regados pela cultura brasileira, não negar a realidade e fazer o que deve ser feito – e o momento político-social que nosso país vive hoje. Pergunto: você é consistentemente íntegro como cidadão?
Independentemente das críticas que cada um tenha aos candidatos à presidência, pergunto: a quem servem a guerra, a desunião, a dança política na escolha de x se y for o beneficiado? Essa briga surda e muda tem prevalecido, a despeito da urgência de soluções para problemas como fome, falta de serviços básicos, desemprego? Será que muitos entrariam na polarização de forma ingênua, sem perceber a baixa integridade de interesses ocultos? É integro da nossa parte, “elite” brasileira, ficar à mercê dos acontecimentos e nutrir a desunião? Acorde!
É fundamental perceber que honestidade não é prova de integridade. Vale o mesmo raciocínio quando falamos de discriminaçãoFenômeno sociológico que consiste em separar uma pessoa do coletivo por condições diferentes da maioria, seja por raça, cor, credo, sexo ou orientação sexual., assédio moralExposição a situações constrangedoras no ambiente de trabalho durante as atividades exercidas. Esse assédio geralmente é cometido por condutas negativas dos gestores e da alta administração da empresa em desfavor... ou sexual, violência e outros comportamentos inaceitáveis. Por fim, é preciso deixar de fugir da realidade, dizer o que precisa ser dito e compreender que não se encontra saída sem união, acolhimento e afeto. É sua vez de agir, é a nossa vez de agir!
Betania Tanure é doutora, professora e consultora da BTA
Publicada originalmente no Valor