A reputação de uma empresa é seu ativo mais valioso, construída com anos de esforço e confiança. No entanto, ela é frágil e pode ser destruída rapidamente por atos inadequados, especialmente de lideranças. Um caso recente de um C-level flagrado em conduta pessoal inapropriada em público num show do Coldplay demonstrou o poder destrutivo dessa vulnerabilidade. As consequências foram vastas: famílias afetadas, queda nas ações da empresa e demissões. Esse episódio sublinha que o comportamento, sobretudo das lideranças, é vital para a marca, sua credibilidade e posição no mercado.

A reputação empresarial vale mais que todo o patrimônio físico das organizações, pois as empresas vendem credibilidade. Clientes compram bens e serviços porque confiam na promessa da marca. Uma reputação sólida atrai talentos, diferencia a empresa e oferece resiliência. Uma imagem abalada espanta investidores e clientes, gerando inestimáveis perdas financeiras e de talentos.

O comportamento da liderança molda a cultura corporativa. Líderes éticos inspiram confiança e engajamento em suas equipes. Já a má conduta, como assédio ou fraude, ou mesmo atos pessoais problemáticos que ganham repercussão pública, mina a moral interna e a percepção dos que se relacionam com as empresas. Por isso, a conformidade trabalhista, regras claras contra assédio e a promoção de um ambiente saudável são cruciais, não apenas por exigência legal, mas por imperativo estratégico para a sustentabilidade da empresa. O valor de uma organização está intrinsecamente ligado ao tratamento de suas relações de trabalho.

Na era digital, uma simples ação trabalhista ou um incidente interno pode virar uma crise global. O “tribunal virtual” das redes sociais amplifica informações instantaneamente, julgando empresas sem o devido processo legal. A rapidez da ultraconexão pode devastar reputações em horas ou dias, sem chance de defesa adequada antes de um veredito popular. As empresas devem estar preparadas para esse escrutínio constante e implacável da opinião pública.

Os danos reputacionais podem ser permanentes e irrecuperáveis, manifestando-se em perda de valor de mercado, fuga de clientes e talentos-chave, aumento do escrutínio regulatório, imposição de multas pesadas e uma corrosão profunda da cultura interna. A recuperação de um dano significativo é um processo longo, extremamente custoso e, muitas vezes, incerto.

É urgente a primazia da ética no trabalho permeando todos os níveis da organização, do CEO ao trabalhador mais jovem. Problemas trabalhistas estão profundamente relacionados com o comportamento, que, se não endereçados, escalam e se tornam problemas jurídicos com consequências devastadoras. A prevenção é, portanto, a chave: investir proativamente em uma cultura de integridade, desenvolver programas de conformidade robustos, implementar canais de denúncia seguros e eficazes, promover treinamento constante para lideranças éticas e realizar o monitoramento contínuo da cultura organizacional. Além disso, o comportamento ético das altas lideranças nas empresas é mais do que desejável.

Como as empresas congregam interesses de muitos empregadores e de milhares de empregadores, proteger sua reputação é uma responsabilidade compartilhada por todos e um pilar inegociável para seu sucesso e sua longevidade.

Por : José Eduardo Gibello Pastore, especialista em Direito do Trabalho e Empresarial

Disponível originalmente no site da CBN Vale. Publicado na CompliancePME em 30 de julho de 2025