A maneira mais eficaz de perpetuar a corrupção e a pobreza é acreditar que somos um país peculiar, que a malandragem e a falta de ética são atributos inerentes aos brasileiros. Diante dessa suposta inexorabilidade só nos restaria aceitar com docilidade o destino, facilitando a vida dos corruptos e seus asseclas. Nada mais falso e pernicioso. A corrupção pode e precisa ser reduzida para gerar crescimento e justiça social. Corrupção e pobreza caminham juntas, e a própria existência da corrupção demonstra que as instituições econômicas e políticas não estão sendo capazes de preservar o interesse público e nem promover o desenvolvimento econômico. É preciso repensá-las.

A corrupção relevante é a que faz interface com o poder público, definida como “o abuso do poder público para benefício privado”. A receita para reduzi-la é conhecida, já foi testada com sucesso em outros países. De maneira sintética, do ponto de vista das regras do jogo econômico, vale afirmar que medidas que promovam a eficiência da economia reduzem a corrupção, e vice e versa.

Não há país eficiente sem um sistema tributário simples e transparente, que evite a sonegação, as leis feitas sob medida e as contínuas contestações, fontes de corrupção. Não há como oferecer serviço público de qualidade se a máquina pública não tiver funcionários competentes, motivados, sujeitos a regras claras de avaliação de desempenho e remuneração, com controles externos eficazes. Há desperdício e ineficiência sem regras transparentes nas concessões, nas licitações e em obras públicas, favorecendo empresas que subornam e nãos as mais eficientes.

Estamos presos na armadilha do baixo crescimento com corrupção elevada. Sua superação exige vontade política e pressão contínua da sociedade na busca do bem comum. O desafio é grande, são imensos os interesses para que nada mude, mas o fracasso coloca em risco a sobrevivência da nossa democracia. Embora árdua, a construção da integridade é o mais precioso legado que podemos deixar para os nossos filhos e netos.

* Maria Cristina Pinotti é economista e organizadora e uma das autoras do livro “Corrupção: Lava-Jato e Mãos Limpas”

Esta notícia foi publicada originalmente no O Globo

Publicado na CompliancePME em 20 de setembro de 2020