Um grupo de 14 CEOs de grandes companhias divulga nesta quarta-feira, 25, um compromisso pela integridade na cadeia produtiva. A iniciativa, capitaneada pela Câmara de Comércio Internacional no Brasil (ICC Brasil), visa ajudar pequenos e médios negócios a aumentar o nível de governança, para atingir padrões de grandes corporações. A carta foi elaborada há cerca de 30 dias. 

Na carta, as companhias afirmam que o compromisso com a ética e a integridade já faz parte do cotidiano da maioria das grandes empresas no Brasil, “principalmente por estas terem recursos suficientes para entender que agir com integridade é uma decisão racional que beneficia os negócios.” 

Entretanto, pequenos e médios negócios, segue a carta, têm dificuldades para “implementar políticas de promoção da integridade e carecem, muitas vezes, de incentivos diretos para fazer o que é certo, do jeito certo”. As empresas signatárias do compromisso reconhecem que é responsabilidade delas cobrar dos integrantes de suas cadeias produtivas os mesmos padrões exigidos de seus funcionários diretos. 

“As empresas erraram no passado. A Siemens, particularmente, errou. O que não podemos é cometer os mesmos erros”, afirmou à EXAME André Clark, diretor-geral da Siemens Energy Brasil. Para Clark, a pandemia acelerou a demanda por padrões mais rígidos de comportamento e responsabilidade por parte das empresas, o que se reflete na onda ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês) que desabou sobre o mercado financeiro neste ano. 

O caso da morte de João Alberto Silveira Freitas, espancado por seguranças do Carrefour, também evidencia a necessidade de levar padrões mais elevados de conduta e integridade para toda a cadeia produtiva das grandes empresas. 

Essa nova dinâmica é impulsionada pela transição energética e pela pauta climática. “A pandemia evidenciou que a humanidade pode acabar”, diz Clark. “Por isso a necessidade de uma agenda ESG.” Em relação aos movimentos políticos contrários a essa agenda, Clark prefere uma abordagem de maior amplitude. “Na Siemens, atuamos com grandes projetos de infraestrutura, que precisam ser pensados para daqui a 20 anos”, afirma. “O processo atual começou na Eco 92. Há altos e baixos, sem dúvida, mas as decisões já estão tomadas faz tempo.”   

Leia a carta na íntegra: 

Nos últimos anos, o Brasil enfrentou altos e baixos nos esforços de combate à corrupção no país. Não há dúvidas de que avanços positivos foram feitos, tanto do lado público quanto do privado, mas há desafios que persistem ao tempo e que merecem atenção especial e comprometimento dedicado das empresas.

O compromisso com a ética e a integridade já faz, há algum tempo, parte do cotidiano da maioria das grandes empresas no Brasil, principalmente por estas terem recursos suficientes para entender que agir com integridade é uma decisão racional que beneficia os negócios e a sustentabilidade empresarial no curto, médio e longo prazo.

Os pequenos e médios negócios, no entanto, possuem naturalmente maiores dificuldades na implementação de políticas de promoção da integridade e carecem, muitas vezes, de incentivos diretos para fazer o que é certo, do jeito certo. As grandes empresas, por sua vez, que têm muitos destes pequenos e médios negócios como fornecedores e prestadores de serviços, reconhecem que seus programas de compliance em muitos casos não alcançam, na prática, a extensão de suas cadeias. E se não chegam nas pontas, não conseguem ser efetivos.

Ciente disso, o setor empresarial brasileiro, representado pelos líderes de diversas empresas dos setores industrial, agrícola e de serviços, vem hoje reafirmar seu compromisso público com a agenda de integridade.

Particularmente, este grupo entende que é importante tomar para si a responsabilidade de exigir também que os integrantes de suas cadeias de valor sigam o mesmo padrão de integridade que se exige de seus colaboradores diretos, criando-se assim um amplo sistema de integridade.

Neste contexto, acreditamos ser fundamental disseminar boas práticas de organizações críveis como a ICC Brasil, a Rede Brasil do Pacto Global e a Alliance for Integrity, que vêm desenvolvendo, há anos e com vasta experiência, conteúdos pragmáticos para capacitação do setor privado, especialmente de PMEs.

Em nosso entendimento, este compromisso, sendo adotado em larga escala pelas grandes empresas com negócios no Brasil, é a base para alcançarmos resultados cada vez mais contundentes de combate à corrupção e é o mínimo que podemos fazer, como agentes econômicos e sociais responsáveis, pela construção de um país cada vez mais íntegro, ético e respeitado internacionalmente.

Por Rodrigo Caetano

Esta notícia foi publicada originalmente no portal Exame

Publicado na CompliancePME em 24 de novembro de 2020