A Reuters afirmou em reportagem publicada nesta segunda-feira (17) que a exchange Binance tem um programa de compliance fraco, que facilita a lavagem de dinheiro, e cria manobras para se manter longe dos olhos dos reguladores. A agência de notícias informou que ouviu 30 ex-funcionários e avaliou e-mails e documentos da empresa entre 2017 e 2022 para escrever o texto.

O CEO da corretora cripto, Changpeng Zhao, disse em comunicado enviado à imprensa que a reportagem é tendenciosa e que se baseou apenas em fontes anônimas. Criticou ainda o fato de o repórter do veículo ter publicado informações de cunho pessoal.

Segundo a matéria, em 2017, a Binance decidiu criar uma nova exchange nos Estados Unidos, a Binance U.S, com o objetivo de desviar a atenção das autoridades do país da plataforma principal. O braço da corretora em solo americano, no entanto, não teria cumprido os requisitos exigidos para abrir contas e evitar o uso de criptos para lavagem de dinheiro, e atualmente estaria na mira do Departamento de Justiça dos EUA.

Na reportagem, a Reuters citou um plano chamado de “Tai Chi”, que teria sido pensado para montar a corretora cripo. Na prática, o documento consiste em um power point com sugestões para a criação e a gestão do negócio. CZ falou, porém, que o tal plano não foi colocado em prática.

Algo semelhante ocorreu na Inglaterra. Segundo a matéria, a Binance tentou evitar uma revisão da unidade da Binance UK com base nas novas leis financeiras. No entanto, a Financial Conduct Authority (FCA), órgão regulador financeiro do Reino Unido, alertou em junho de 2021 que a exchange de criptomoedas não tem “nenhuma forma” de permissão para oferecer serviços regulamentados.

No comunicado enviado à imprensa, CZ disse que o mercado cripto cresce em um ritmo e as empresas do setor enfrentam desafios complexos, e que a exchange foi a primeira fora dos EUA a realizar o KYC (sigla em inglês para Conheça Seu Cliente) de todos os usuários. “Temos trabalhado lado a lado com reguladores de todo o mundo para reestruturar nossa organização e atualizar nossos sistemas”.

A Reuters também afirmou no texto que, por causa do fraco compliance, a Binance permitiu que hackers, traficantes e golpistas lavassem cerca de US$ 2,35 bilhões. A matéria citou o caso das corretoras iranianas Wallex e Sarmayex que, apesar de sancionadas pelos EUA, conseguiram movimentar US$ 29 milhões em cripto por meio da plataforma da corretora.

Na resposta, CZ disse que existe um grande mito sobre os criptoativos serem uma ferramenta de criminosos. Falou ainda que apesar de o número da Reuters ser muito exagerado, isso “ainda indicaria que a Binance é uma das instituições financeiras mais eficazes em manter fundos ilícitos fora de sua plataforma”.

Localização e vida pessoal

Na matéria, a Reuters questionou o fato de a Binance até hoje não informar sua localização, e ter uma política de sigilo. A empresa pede que os próprios funcionários, por exemplo, não forneçam informações sobre o local onde moram. A agência ainda abordou a vida pessoal de CZ, citando que ele é casado com Yi He, ex-apresentadora de um programa de TV da China, e tem um filho.

Sobre a localização, CZ disse que ele e equipe precisam ser “cuidadosos ao divulgar os locais dos escritórios, vestir itens com a marca Binance ou nos apresentar como funcionários da Binance, por razões de segurança”.

Em relação à vida pessoal, ele disse o seguinte: “Meus filhos não são do interesse público e estes repórteres estariam conscientemente colocando-os em perigo ao publicar informações sobre eles. Isto denota falta de princípios e é intolerável”.

Publicada originalmente no InfoMoney

Publicado na CompliancePME em 24 de outubro de 2022